segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Thiago Martins: “A favela do Vidigal é meu porto seguro


Como tantos outros moradores da favela do Vidigal, zona Sul do Rio, o Thiago da nossa história tinha o sonho de ser jogador de futebol pelo Flamengo, time do coração. Filho de pais de origem humilde, também como tantos outros vizinhos , o garoto procurava se espelhar na figura masculina mais próxima. No caso do nosso herói, o irmão mais velho, o ator e produtor teatral Carlos André. Por causa dele, aos seis anos, Thiago começou a estudar teatro e foi deixando de lado a meta de chegar a ser um profissional do esporte.

Tudo parecia correr bem, mas, ainda na adolescência, o garoto é surpreendido por uma notícia que abalaria seu mundo: o irmão é atingido por uma bala perdida, durante confronto na comunidade onde mora. Este seria o momento mais triste da vida de Thiago. Mas o garoto da nossa história vive um enredo de final feliz, como na maioria dos filmes de sucesso: Carlos André se recupera do susto e hoje aplaude a ascensão do irmão mais novo na principal novela da maior emissora de TV do País.

A história feliz de Thiago Martins, o Vinicius da novela “Insensato Coração”, está apenas no começo. Mas o ator da TV Globo, aos 22 anos, já acumula em seu currículo duas peças, oito filmes e nove trabalhos na televisão. Além disso, Thiago, que ainda vive no morro do Vidigal por opção própria, hoje leva ao delírio centenas de patricinhas da elite da Zona Sul carioca nos shows da sua banda Trio Ternura, sonha com uma carreira internacional no cinema e vai emendar a novela com a peça “O Grande Amor da Minha Vida”, ao lado da atriz Paloma Bernardi.

Vivendo um vilão pitboy na trama das 21h, Thiago tem provocado tanta raiva que por pouco não apanha na rua. “O bom é que isso quer dizer que estou fazendo o meu papel direito”, brinca ele, que nos próximos capítulos da trama vai participar de cenas de violência contra homossexuais. “Me perguntam por que do Vinicius ter essa atitude. Sinceramente, não sei. Claro, a estrutura familiar é muito importante. Acho que é muito mais diversão, tiração de onda, do que qualquer outra coisa. O não gostar de gays é uma desculpa desses meninos”.
"Faço um grande sucesso com gays"

Thiago conversou com a reportagem do iG Gente no Mirante do Leblon, entre a praia do Leblon e o morro do Vidigal, suas duas paixões. “Se eu morasse na Barra da Tijuca, ninguém ia ficar me perguntando por que escolhi morar lá (risos). O Vidigal é meu porto seguro”.

Confira abaixo a entrevista com o ator:

iG: Por que você continua no Vidigal?
Thiago Martins:
É uma opção. Se eu morasse na Barra da Tijuca, ninguém ia ficar me perguntando por que escolhi morar lá (risos). Mas o Vidigal é meu porto seguro. É onde tenho minha família, meus poucos e bons amigos que torcem por mim. Sou nascido e criado lá. Quando chego, deixo de ser o Thiago Martins, que é o Vinicius da novela ou o vocalista do Trio Ternura, para ser o Thiaguinho do Vidigal. É muito bom morar lá. Para você ter noção, não existe uma casa para alugar. Tem muita gente querendo subir para participar do “Nós do Morro” (grupo teatral do qual o ator faz parte).

iG: Continua morando na mesma casa em que nasceu?
Thiago Martins:
Morava em uma área mais acima, mas há cinco anos comprei um apartamento para minha mãe, da onde podemos ver os fogos da praia de Copacabana da varanda. Ela ficou toda feliz. É uma das vistas mais bonitas do Rio.

iG: Como foi crescer em uma favela?
Thiago Martins:
Você cresce superligado em tudo. Se perde um pouco da inocência e tem de lidar com situações que outros jovens da minha idade não passam. Por exemplo, aos 15 anos, meu irmão (Carlos André, de 30 anos) foi atingido por uma bala perdida. Foi o momento mais triste da minha vida porque vi o meu ídolo em um lugar que não era dele: uma cama de hospital. Foi muito difícil. Mas sempre soube que ele ia se recuperar e que iria me ver no lugar que ele queria que eu chegasse.

iG: O seu personagem na novela tem uma relação complicada com a família. Como é a sua?
Thiago Martins:
Eu moro com meu irmão e com a minha mãe, uma mulher guerreira. Ela foi o meu pai também, já que só tive contato com o meu há oito anos. Foi por causa do meu irmão que comecei a fazer teatro e ele é meu maior torcedor e conselheiro. Foi ele que me ensinou todos os caminhos, me orientando a não crescer pelo jeito mais fácil dentro de uma comunidade, que seria o tráfico. Me deu opção e sempre me ensinou que o diálogo é a melhor forma de resolver as coisas. Foi isso que me fez me tornar um cidadão.

iG: Como é a sua relação com o seu pai?
Thiago Martins:
É ótima. Ele se separou da minha mãe quando era criança. Ele teve outra vida, outro filho. É um cara bacana e que me dá muito apoio. Ele é taxista e faz questão de levar fotos minhas no táxi para mostrar que sou seu filho.

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